Luiz Alberto Marinho
Está reaberto o debate - afinal, dinheiro traz ou nao felicidade? Até agora, prevaleciam os estudos que diziam que ultrapassado determinado limite de renda, o ganho de bem estar subjetivo nao era proporcional ao aumento na conta no banco. Ou seja, depois que a gente já tem mais do que precisa, acumular dinheiro nao acrescentaria felicidade as nossas vidas. Seriam, na verdade, fatores como saúde, satisfaçao no trabalho e harmonia familiar que nos fariam felizes, segundo especialistas em comportamento humano.
Há 3 semanas, entretanto, a The Economist publicou uma reportagem sugerindo justamente o contrário. O texto foi baseado em pesquisa do Gallup, realizada em 130 países, que descobriu que, com raras exceçoes, as populaçoes das naçoes mais ricas sao também as que se julgam mais felizes. Inversamente, os países mais pobres concentram maior quantidade de pessoas insatisfeitas com a vida que levam.
Outras pesquisas citadas pela revista foram as do Ipsos e do Pew Research Center, que permitem comparar em diversos países o nível de felicidade de líderes e formadores de opiniao com a média da populaçao em geral. A conclusao é que as elites normalmente estao muito mais satisfeitas com o estado das coisas do que o cidadao comum, o que comprovaria a relaçao entre alto poder aquisitivo e bem estar subjetivo. Essa mudança, se confirmada, pode estar ligada ao crescente materialismo da nossa sociedade e a enorme importância dos serviços e produtos de boa qualidade e alto custo, como planos de saúde, previdência privada, ensino particular, posse de computadores, telefones celulares e remédios, na manutençao de um bom padrao de vida nas grandes cidades do planeta.
Curiosamente, um dos pontos fora da curva em todas as pesquisas é o Brasil. No relatório do Gallup, a avaliaçao dos nossos conterrâneos sobre suas vidas está nivelada a dos habitantes de países mais desenvolvidos, como EUA, Inglaterra, Espanha e Austrália, por exemplo. No outro extremo, a Ipsos e a Pew descobriram que tanto a nossa elite quanto a populaçao brasileira em geral estao igualmente insatisfeitas com a situaçao do país. Como isso se explica? 30/07
Pesquisa do Datafolha, divulgada em setembro do ano passado, pode dar uma boa pista sobre essa aparente contradiçao. Nada menos do que 76% dos brasileiros disseram na época que eram felizes. Porém, quando perguntados se os demais brasileiros seriam felizes, a resposta foi outra - somente 28% dos entrevistados enxergam felicidade na vida de seus compatriotas. Ou seja, quando questionados sobre a felicidade pessoal, os brasileiros tendem a refletir seu incorrigível otimismo. Mas quando sao convidados a pensar sobre a vida que levam seus vizinhos, a realidade vem a tona e fatores negativos rebaixam o nível de felicidade exterior. 30/07
Por isso, nao é de se estranhar que nosso povo se alinhe aos habitantes das grandes potências mundiais na percepçao de felicidade pessoal e que o topo e a base da pirâmide se unam na crítica as condiçoes do país. Essa esdrúxula combinaçao é mais um produto genuinamente brasileiro e certamente contribui para embaralhar ainda mais a visao que o mundo tem sobre nós. Eles nao nos compreendem, o que é natural. Muitas vezes nem nós mesmos entendemos. Todas do Marinho no Blue Bus, escolha entre as opçoes disponiveis aqui. 30/07 Luiz Alberto Marinho
O Marinho escreve no Blue Bus as 2as, 4as e 6as. Blog com bastidores aqui.
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